quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Um paulistano de 14 anos e a medalha de ouro ( Mara Cristiane Rodrigues Aguila )


Que orgulho! O Brasil em um primeiro lugar! Medalha de ouro! Uau! É demais!

Este fato não está relacionado aos últimos destaques que temos apresentado à mídia internacional. Não se trata de nenhuma catástrofe em nosso país, nem notícias relacionadas à violência, não se trata também de assuntos relacionados à corrupção, ou ainda Copa do Mundo efutebol... Imagine só!!!Este assunto tratado mundialmente trata-se dos resultados da Olimpíada Internacional de Ciências onde, num desafio ocorrido no mês passado no Teerã, no Irã, 180 jovens de 28 países estiveram reunidos disputando a resolução de problemas práticos de Biologia, Física,Química, entre outras. Matheus e mais dois amigos formaram uma equipe e lá se encontravam, no alto de seus 14 anos, nono ano na escola e avaliações com temas de Ensino Médio os esperavam nas provas em que foram vitoriosos. Assuntos que nem sequer foram trabalhados na série em que se encontram na escola. Esta conquista só veio à tona semana passada. Notícia citada em algumas revistas semanais brasileiras.

Matheus obteve nota máxima na prova, o que causou surpresa até mesmo nos organizadores e júri. Afinal, como isto aconteceu?... Ele nem mesmo teve estes conteúdos na escola ainda?... Qualcaracterística pessoal pode ser a justificativa para esta vitória?

Não é tão simples assim. Matheus é considerado um superdotado, ou melhor, tem altas habilidades. Entre muitos outros que não tiveram um caminho tão feliz quanto o dele, já que estas crianças e adolescentes não são reconhecidos em nossos meios educacionais, quanto menos, valorizados. Hoje, o termo utilizado não é mais superdotação e sim altas habilidades e o motivo para esta alteração é o critério utilizado, visto que superdotado era o indivíduo que se destacava como um todo, hoje se sabe que há diferentes perfis, conforme as habilidades individuais, portanto alguém com habilidades especiais em música, em criatividade, em conhecimentos gerais, em artes e até mesmo em liderança, entre outros quesitos, pode ser considerado dotado de altas habilidades, o que aproxima muito mais a sociedade destas crianças e adolescentes. 

Segundo estatísticas, 5% da população brasileira possui altas habilidades, o que seria equivalente a três milhões de crianças e adolescentes nesta condição em todo país, no entanto, o MEC registra apenas 10,7 mil alunos com altas habilidades em 2011, no Brasil, segundo pesquisa divulgada na Revista Isto É de 16/012013.

Subdiagnosticados, eles apresentam um rendimento acadêmico muitas vezes ruim, o que dificulta ainda mais o encaminhamento da escola para uma investigação pormenorizada. E ainda mais, quando isto ocorre, nem sempre são considerados, chegam com queixas comportamentais e poucos profissionais têm conhecimento dos critérios para este diagnóstico. São testes específicos, longas observações, entrevistas familiares, sociais, escolares, encaminhamentos a profissionais da área da saúde, e um vasto conhecimento das teorias de pensamento, inteligência, desenvolvimento da cognição e desenvolvimento humano, então quando há suspeita de altas habilidades já há uma grande interrogação: a quem encaminhar para avaliar?

Tive a oportunidade de tomar conhecimento do programa desenvolvido para as Secretarias sobre o assunto, pois tenho pacientes diagnosticados com altas habilidades e no trabalho multi e interdisciplinar há que se atuar em parceria com a escola e a família para que os resultados despontem e aconteçam. Confesso que me deparei com um projeto muito interessante, bem elaborado e descrito, bonito mesmo de se ver... no papel, mas... na prática, os educadores em sala de aula não estão preparados para perceber, receber ou trabalhar com estas crianças e adolescentes com altas habilidades. Não é desinteresse não, nem incompetência, mas sim falta de informação, de programas eficientes de capacitação de Educadores para Inclusão em todos os aspectos, pois este aluno também tem um desenvolvimento diferente dos seus pares, merece ser estimulado de acordo com as suas capacidades, e de caminhos que orientem este conhecimento de uma forma realista e eficiente.

Na maioria das vezes, estas crianças e adolescentes não tem bom rendimento escolar, notas boas ou ainda participação nas aulas. Problemas comportamentais, transtornos e dificuldades sociais não são incomuns. O desinteresse pelas aulas, a escassez de recursos, a falta do reconhecimento de seus talentos, enfim, tudo isto contribui para os obstáculos no diagnóstico e planejamento de estratégias adequadas na escola e na vida para o sucesso deste aluno. 

Parabéns Matheus pela sua habilidade e competência, pelo prêmio e por abrir esta discussão tão importante. Devemos abrir os olhos para esta questão. Estas crianças e adolescentes merecem receber um atendimento adequado. O Brasil tem uma riqueza ainda desconhecida e que precisa ser vista, diagnosticada e valorizada através de adaptações para que a ciência e o desenvolvimento possam acontecer entre nós e ter o nosso nome: Brasil.

Abraços.





Psicóloga - Curitiba e Paranaguá-PR - Mara Aguila - (41) 9189-3751
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